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Economia, para mim, sempre foi "Economia Política" - denominação usada pelos autores clássicos fundadores da ciência. Só por essa frase, teria uma avalanche de opiniões contrárias por parte daqueles que preferem chamar apenas "Economia", por considerá-la uma ciência neutra, isto é, imune a juízos de valor. Respeito todas elas, mas poderia discutir com eles argumentando em favor do conceito de "ciência normativa" em comparação com o enfoque de "ciência positiva". De acordo com o primeiro conceito, as opiniões dos economistas (vale também para outros campos do conhecimento), na maioria das vezes, se referem "ao que devia ser" e não "ao que é", já que é impossível o sujeito despir-se de seus valores ao fazer uma análise que pretende ser isenta. Só o livre pensar permite o choque de opiniões, quando um dos lados tenta convencer o outro de que tem razão. Isso permite o nosso crescimento intelectual e nos leva à aproximação da verdade. Sem contar que essa é a essência da própria democracia.
Dou um doce aos meus detratores (ver seção "Fala, leitor" do Diário, "edições de 1º e 3 de setembro), se eles conseguirem entender o que está escrito no parágrafo anterior. Por um motivo muito simples: não estão acostumados a debater opiniões contrárias e preferem desqualificar quem não pensa como eles. Não compro esta briga. Sequer ia citar o episódio não fosse o alerta de alguns amigos com a volta da censura, o que é preocupante. Fiquei surpreso inclusive com a mesma reação de outros que, muitas vezes, não pensam como eu, mas que acharam que eu deveria dar uma resposta. O fato é que, de um só golpe, fui acusado de falsidade ideológica (questionamento do meu título de doutor), defesa de governos corruptos, ter como objetivo desestabilizar o governo Bolsonaro e de não apresentar projetos. Lembro, neste último caso, que quem tem obrigação de apresentar projetos é quem é pago para isso, no caso, os poderes Executivo e Legislativo.
A título de esclarecimento, explico como escrevo a maioria dos meus artigos. Geralmente, escolho um tema de destaque na mídia naquela semana, leio as várias opiniões a respeito e, a partir daí, estabeleço a minha própria opinião que vai para o papel. É isenta? Claro que não! Mas procuro ser honesto comigo mesmo e isso, creio, me aproxima da verdade. Para ilustrar, socorro-me de trechos do livro As palavras de Saramago: "Eu sei o que é, sei o que digo, sei porque o digo e prevejo, normalmente, as consequências daquilo que digo. Mas não é por um desejo gratuito de provocar as pessoas ou as instituições. Pode ser que se sintam provocadas, mas aí o problema já é delas. A pergunta que faço é por que é que eu hei de me calar quando acontece alguma coisa que mereceria um comentário mais ou menos ácido ou mais ou menos violento. Se andássemos por aí a dizer exatamente o que pensamos - quando valesse a pena -, teríamos outra forma de viver. Estamos numa apatia que parece que se tornou congênita e sinto-me obrigado a dizer o que penso sobre aquilo que parece importante".
E, no final das contas, meus críticos deixaram algo de bom (nas palavras de Saramago): "Consegui encontrar meus leitores e nenhum autor pode acreditar em algo mais importante do que isso: saber que tem os seus leitores".